O teu "eu"

Quando certo dia acordas e parece que és quem na verdade, não és. E passam uns dias, uns meses... No início parece apenas uma fase. Tu não notas a mudança, mas os outros sentem na pele. E quando se apercebem, caem-te em cima. Tu não sabes porque mudaste, para ti, parece que sempre foi assim. Então, os julgamentos dos outros tornam-se irritantes. E tu tornas-te irritadiço. E o mundo passa a ser o teu mundo, aparte de todos os outros. Uma espécie de barreira que crias à tua volta. Dizem que tens de mudar e tu ficas sem saber o motivo. Não compreendes, mas és igualmente incompreendido. Todos te mandam abaixo e tu és forte, é a tua personalidade. Mas por dentro, sentes uma revolta que só tu sabes que sentes. Até que és obrigado a ser como os outros querem. Castigam-te por seres à tua maneira e abrem-te os olhos para aquilo que não queres ver. Tens de dizer "olá" a um novo eu, que não encontras dentro de ti. À noite reflectes e chegas à conclusão: ontem disse amanhã. E não foi só ontem. Anteontem, antes de anteontem... Há muito tempo. E pensas: talvez depois desta noite, seja o dia. E no outro dia acordas com um novo espírito, leve e pesado. Leve, pois vais tentar agradar outrém. Pesado, devido ao quão complicada essa tarefa é. Vais cair e cometer erros e continuar a desiludir. Mas um dia acertas. E os outros dias vão parecer tão fáceis como esse. E não voltas a ouvir o que ouvias. Voltas a encontrar o teu eu, dentro de ti. Tu não procuras a mudança. mas por vezes, a mudança vem até ti.